26 de mai. de 2007
Exílio (ALEJANDRA PIZARNIK)
sem idade,
sem morte para a qual viver,
sem piedade por meu nome
nem por meus ossos que choram vagando
E quem não tem um amor?
E quem não goza por entre amapolas?
E quem não possui um fogo, uma morte,
um medo, algo horrível,
ainda que fira com plumas,
ainda que fira com sorrisos?
Sinistro delírio amar uma sombra.
A sombra não morre.
E meu amor
só abraça ao que flui
como lava do inferno:
una loja calada,
fantasmas em doce ereção,
sacerdotes de espuma,
e sobretudo anjos,
anjos belos como lâminas
que se elevam na noite
e devastam a esperança.
TU (Maiakovski)
Se se atira em cima,
24 de mai. de 2007
Ademir Braz (Marabá)
narrada por um sobrevivente
ei parceiro
tem um pássaro verde no teu ombro
e uma flor de sapucaia em teus cabelos.
não os espante, parceiro.
não os destrua, parceiro.
foge com eles, minino,
que tem grileiro no muro
faz fogo onde foi roçado
somos raça em extinção.
ave verde e sapucaia
já quase num dá pra ver
o boi comeu nossas matas
casa tapera mandinga
a fé cega do terçado
já num tem o que cortar
o fogo feio do truste
fez fugir fera mambira
o mangangá a mucura
seo jabuti seo preá
a onça mais roncadeira
não rosna mais ao luar.
desculpa nossa pobreza.
um dia já fomos ricos:
a tribo, pra suas festas,
vestia-se toda de cores:
vinha a buiúna das águas
do Pirucaba o murmúrio
(que mora na profundeza);
tinha matinta-perêra
de madrugada na rua;
o cupelôbo, na mata,
deixava riscos no chão.
alma penada era tanta
que tropeçava na gente!
pra se prender uma bruxa,
fazia-se oferta de fumo,
dava três voltas na chave
durante seu canto noturno.
desculpa nossa pureza.
eita, parceiro minino,
peita no mundo dipressa
que inté a língua perdemos!
o juquireiro é peão,
conforme dizem os senhores;
a posse, onde nascemos,
em tempo de matas virgens,
não é mais posse, é grilagem
e a gente somos grileiro
invasores turbadores.
“Saia do meu latifúndio
senão eu chamo a polícia
pra estourar o aparelho!”
(ai, mai frendi parceiro,
tá dando pra entender?...
vou rir que está doendo!)
tijolo da minha casa
não é mais tijolo: é tejolo;
e por me sacar a lajota,
a tijolada final quem leva
em rabo sou eu)
ai, saudades!...
antigamente, à noitinha,
a gente ia pra porta
conversar com os vizinhos;
botava cadeira em roda,
cobrindo toda a calçada
e haja histórias de fada,
do casarão assombrado,
da visagem beradeira
que assustava os meninos...
agora, é televisão...
até da vida alheia já se deixou de falar!
desculpa nossa aparência.
pistonar, hoje é paquera.
amar, por detrás dos muros,
virou coisa de museu;
papa-anjo é cocoteiro,
meu samba virou sambão.
a zona, com seus puteiros,
foi à França e não voltou:
é cabaret, é boite,
é rendez-vous e madames...
suicidaram o pecado e fiquei a ver navios.
Ai, boemia!...
Pau-d’urubu... Zonzeira... Rua do Poço...
Vou eu subindo, entre menino e moço,
pro Pindura-Saia, a flor do lodo.
Nenhum amor noturno aí me espera.
Mas, na sala infrene, a vã quimera,
de repente me envolve o corpo todo.
Ó frenesi de peitos que a blusa
das mulheres expõe à luz difusa...
Eu sonho seios coxa amor maduro
(enquanto um preto canta com voz rouca,
e ganem os metais presos à boca,
meus olhos incendeiam no escuro)!
(às vezes, a lembrança me torna
vergonhosamente lírico...)
desculpa nossa incerteza.
a gente só queria estar sozinho:
ver na matinê – em plenos anos 60 –
os seriados do zorro
os filmes de boris karloff
com os olhos da primeira vez;
o king-kong encardido... a louca vida de cristo...
tão mutilada a fitinha que a cada ano passava
um poucochinho mais curta...
(ah, a nostalgia que leva
o burguês ao cine-clube!)
a gente roubava moça pra se casar no outro dia;
a gente só via gente quando os barcos de castanha
voltavam da capital.
então a gente corria, só pra ver os estrangeiros.
o catalina de guerra pousava n’água e subia
carregadinho de carne pros ricos da capital;
os filhos dos nossos ricos estudavam em belém,
e quando vinham de férias, com suas roupas estranhas,
a gente olhava pra eles como chegados do céu.
(honra se lava com sangue, aprendemos em menino;
e um dia nos pagarão todo o mal que nos fizeram.)
desculpa nossa tristeza.
vassoura, detrás da porta,
mandava embora a visita;
pra que não chovesse à noite,
atrapalhando o programa
de encontrar namorada
(que já tava no Marrocos,
reservando duas cadeiras)
prendia-se a chuva num copo;
o cabilouro do boi,
se comido atrás da porta,
fazia ficar bonito.
perdoa nossos mistérios.
somos sobreviventes tribais. extinta
a tribo, restou-nos o botequim.
não me pergunte que fim levou
seo Santos, o plantador dos mortos,
nem onde está Ceará boista-de-boi
ou o Cururu-tem-tem que dava
carreiras olímpicas atrás dos moleques,
xingando a mãe, a puta que pariu,
azuado com o apelido tido aos berros
por mil bocas risonhas sob o sol;
nem queira saber de Zabelona,
a louca municipal, ou do cara
que passava o dia inteiro imitando
instrumentos ácidos, cantando e assobiando
e batucando com uma lata de querozene esso jacaré
vazia sobre o ombro, encostada à face,
e a sonoridade pura do prazer se despejando
da lata e de seus olhos vesgos.
eles estão mortos. Nós todos estamos mortos.
a cacofonia da lata em meus ouvidos chama-se saudade.
restou-nos talvez algum canto ancestral
uma eterna panela de ferro em tripé
um caroço de ouriço (duro, áspero, sujo,
carregado de frutos leitosos – a imagem
mais concreta de nossa alma trucidada);
talvez ainda um paneiro de castanha
pendurado entre peles de obra, chapéus
de palha, arco e flecha, cocares trágicos
- fósseis roubados ao dilúvio –
e que hoje, destroçada a essência,
decoram como escalpo a sala dos conquistadores.
entenda a nossa miséria.
era gostoso votar, eleger o mandatário.
era tudo rica gente, quem usava o microfone.
nesse tempo, de repente, a gente era importante:
ganhava muda de roupa, comia carne no almoço,
bebia cerveja às pencas, andava de roupa
branca e ar de festa na cara...
tudo por conta dos ricos.
o voto, uma coisa cara; a gente
se corrompia, enchia a pança de pinga,
brigava na putaria pra pagar uma rodada,
fazia puta chantagem com os donos de nossa vida
(êta vingança paidégua!)
alcança nossa alegria.
a vida exposta no muro
sempre em pasquim gozador
de vez em quando fazia
esc6andalo doce e feroz:
“o pai do fulano é corno”
(geralmente um boçal)
e lá vinham as coisas podres
(que a gente sabia há tempo)
escrita em letras cruéis
na porta do mercadinho.
de melão-são-caetano a gente fazia judas.
um dia, dois lambanceiros,
carregando um desses monstros,
deram de cara com a justa.
era escuro e era tarde:
- onde vão, rapaziada?
- - levar o porre pra casa.
- muito bem, se a gente pega
leva logo pro xadrez.
entenda nossa virtude.
(a vida é um trem-expresso;
a noite, meu sonho aceso;
a luz do sol, o meu medo,
coisas que trago e não calo)
dona Totó, matriarca, levou a vida em chinelos.
Tinha medo de feitiço e se pegava nos santos.
Somente para assustá-la, sal pimenta
e pião-roxo em sua porta deixou-se;
levou a velha um mês, lavando a porta com banhos
(e nós, por trás, sisbaldando)
sic transit gloria mundi!
amas a morte, parceiro?
Ai, que saudade que eu tenho
Dos tiroteios de outrora!...
Geraldina cangaceira mandou matar o marido
nos garimpos do pedral. depois comprou um cavalo
todo arriado e fogoso, vestiu uma calça de homem
e bebia em botequim. tinha papo e andava armada.
era o terror dos meninos.
um dia foi encontrada cravada à faca no chão;
do coração decepado não lhe saiu uma gota!
então as pedras choveram durante um mês no lugar.
poetas desesperados escreviam e se matavam.
na casa de Vó Floripes, Luís, Jacundá e Getúlio
morreram só de beber.
Até hoje ninguém sabe quem matou o cara estranho
que foi achado no rio, com a tez tirada à faca.
perceba a nossa herança.
a nossa pouca vergonha, nossa desordem astral,
sempre humilhou a Cultura. eis o espanto dos sábios:
“Desde o Piauhi, todo o sertão exportou víveres, carne de boi e de porco; toucinho,farinha sêcca e de puba, assucar, cachaça, tabaco, doces, queijos, gallinhas,ovos, bois vivos, porcos e vaccas paridas,até laranjas, aboboras e inhames para a phantastica e maravilhosa Marabá,surgida de repente como obra de magia na foz do escuro tio Tacai-una”.
e a delícia que fomos!...
“Marabá brotara da ganância do dinheiro; logo,totalmente alheia a qualquer preocupação religiosa e moral. Principiou sendo o que chamam currutela, nome bem significativo, empregado com muito acerto nas regiões de garimpos, e que não carece comentários (...)
Algumas das pragas morais e sociais mais comuns Eram a mancebia e a poligamia, por meio sobretudo do casamento civil. Quantos desses seringueiros,
castanheiros, esqueciam-se de suas famílias legítimas,E tentavam construir outro lar, servindo-se do contrato civil passado sem as menores garantias, perante funcionários sem conhecimentos jurídicos e sobretudo sem moral!
Não se respeitava nem casamento religioso, nem contrato civil efetuados anteriormente em outros lugares”.
mas não ficava só nisso...
ouçamos a voz de outros:
“Marabá” - palavra mágica: luminosa e sombria evocando contos fantásticos ou narrações de aventureiros. (...) Mas, que habitantes! Aventureiros arriscando a sorte, colhedores de castanha, que são também, conforme a sucessão das estações, caçadores de diamantes. (...) Em Marabá encontram-se todas as raças e todas as paixões. A prostituição aí é intensa. Os casais em absoluto não se conformam com as promessas definitivas sancionadas pela Igreja ou pela lei civil. A proporção de botequins bate sem dúvida o recorde do mundo: um, para cada 17 habitantes.”
O nomadismo é inerente a essa raça: instabilidade inata, tanto do sertanejo como do garimpeiro, hoje aqui, amanhã acolá, com ou sem razão. Vontade de “ver o mundo”, desejo nunca satisfeito de melhorar de vida. (...) Essa instabilidade da população só pode prejudicar gravemente a humanização e a “civilização da cidade, pois, que interesse há em constituir uma família, em construir uma casa, em dar uma instrução séria às crianças, se a vida, hoje “arrumada” aqui, tiver de ser amanhã transportada acolá e, depois de amanhã, ainda alhures?
... Entremos numa dessas casas. Cuidado em não esbarrar logo na entrada, pois há no chão uma fileira de paus curtos enfiados na terra erguendo-se ameaçadores, tal qual dentes de ancinhos; servem, na ausência de porta, para interditar a entrada aos porcos da vizinhança (...) Tanto as paredes como de palha de uns dois metros de altura, que esboçam uma divisão da casa em cômodos, são recobertos de jornais. Esse revestimento, julgam os moradores, é muito mais bonito do que um leite de cal ou a simples palha trançada. “Só branco, não interessa”, disse-me um deles certa vez. Para passar o tempo, basta se aproximar da parede e ler o jornal. E, se não souber ler, pode-se ao menos olhar as gravuras. (...)
(...) a rede é sempre individual. Mas ninguém sabe, de tarde, quantas pessoas irão dormir de noite na casa. Talvez somente a família: os homens de um lado do tabique e as mulheres do outro. Mas, muitas vezes, parentes e amigos que vêm do “centro do comércio” pedem para arranchar e ficam semanas, meses a fio. É a lei da hospitalidade.
(...) Não seria luxo, é claro, consertar essas casas (na medida do possível), tapar os buracos das paredes, trocar a palha do teto, instalar uma mesa na cozinha? Mas, para quê?”
Barruel velho de guerra num entendeu porra nenhuma!
E que pensavam os barqueiros
deste médio Tocantins?
Eles cantavam, cantavam...
Quem me dera eu vê hoje
de quem m’alembrei agora
quem eu trago no sentido
retratado na memora
vou mimbora, vou mimbora
as águas vão me levano
eu nem sei quem fica atrás
mas meus zoios vão chorano
acabou-se, acabou-se
quem eu amava com firmeza
cobriu o corpo de luto
e o coração de tristeza
vou mimbora, vou mimbora
lá pra baixo, pro Pará,
não chore por mim, morena,
eu vou e torno a voltar
rio abaixo, rio abaixo
remando minha canoa
encostando em todo porto
ganhando coisa boa
rio arriba, rio abaixo
remando na montaria
coisa que acho bunito
canoa aqui leva Maria
cantei onte, cantei hoje,
querem que eu cante travez
meu peito num é de aço
nem foi ferreiro qui fez
essa noite não drumi
cuma marreca piano
o marvado desse bicho
é gente qui tá criano
vou mimbora, vou mimbora
de hoje tô m’aviano
o cavalo que vou nele
tá no mato si criano...
ai, as súcias de outrora!...
eu vi, meu mano, eu vi,
eu vi o acamadô
onde o Fonseca apanhou...
quantos tiros deu na onça, Luizãlo?
Dei um, dei dois, mas o bicho
foi-se embora
E p í l o g o
então, meu mano, o mundo
pegou de raiva com a gente:
abriu a tranca do inferno
tirou seus monstros de ferro
cortou o verde das matas
rasgou a casca do ovo
e despejou nossa história.
depois, os seus cavaleiros
entraram portas a dentro
cortaram nossos cabelos
comeram nosso feijão
botaram fogo na roça
e semearam colonião.
morreu quase todo bicho
esvaiu-se todo encanto
visagem caiu no mato
- pernas, para que vos quero? –
passarinho foi embora
dizer pra onde não sei;
só ficamos nós, coitados,
presos no arame farpado
bando de bois entre bois.
calcule nossa tragédia.
“A poesia é necessária” (Ronaldo Giusti Abreu/Marabá)
dona maria a enrolar charutos
que o menino venderia
nas ruas estreitas de são luís
e assim o status de adulto:
aos doze anos
o primeiro gole
a primeira mulher
o que restou da boêmia:
na bainha, espada de penicilina
soldado à paisana na guerra
contra o exército de bacilos
era como se planasse
ladeira abaixo e era sábado
(a camisa de algodão inflada
pelo vento quente da tarde)
o maldito salva-vidas a gritar:
lá vem golias!
lá vem mata-gato!
lá vem massiste!
na oficina:
a solidão dos relógios
o carrilhão na parede
a espera do conserto
que não virá
sexta-feira à noite:
os cabarés da Côndor
minha iniciação sexual
que já não seria apenas uma mentira
pai...
na terça-feira gorda
quando já não havia
qualquer esperança de folguedo
um anjo do mal lhe pegou pela mão
e levou-lhe para um lugar desconhecido
pai...
vem o passado
(embrulhado em papel de pão)
e diz que já é tempo
de pagar o conserto
da velha máquina de escrever
o passado é a velha tecla empoeirada
suja de tinta e lubrificante
que “seu” jordão limpava com paciência
e sabia que ela jamais seria a mesma
e já não gravaria como antes
na branca pele do papel “chamex”
mas a tecla do teu sorriso
iluminada pelos olhos de criança
cravava em mim um chamado
(algo que jamais entendi)
talvez um apelo que detrás da porta
me acompanharia os passos
para sempre
o aguardente animava o final da tarde
que o trabalho árduo preenchera de cansaço
raimundo que não sabe ler nem escrever
aceitou o desafio do patrão
discordou do amo e por isso
ganhou de prêmio terçadadas
que pelo corpo inteiro
lhe fazem lembrar
do preço de ser homem
estou entre a rudeza
das mãos em desalinho
e a candura dos lábios
que buscam em fala
gestos e sussurros
estou entre a flor entreaberta
e o falo que a despetala
e assim não há morte
mas a fugaz sensação
de um eterno recomeço
Sábado à tarde.
O sol ferve a água tocantina.
Eu posso vê-la borbulhando
da janela do escritório.
Nada me diz que ela voltará
ao leito natural do rio, tão cedo.
Nada é novidade nesta tarde
nem mesmo nos acampamentos
onde os flagelados se amontoam
e fazem fila à espera do pão,
o pão em cesta básica
que o chefe da Defesa Civil
distribui como esmola...
eu a colhi como uma flor
o coletivo subindo a ladeira
(minha cabeça para fora da janelinha)
às duas da tarde no caminho
para o centro educacional do maranhão
tínhamos 13 anos e a inocência a vencer
o beijo sem volúpia o sexo a brotar
na calça (saia) curta do uniforme escolar
o namoro durou apenas o ano letivo
depois os dias quentes a brisa da avenida beira-mar
e o exame de admissão para o liceu maranhense
nos separaram definitivamente
por onde anda maria lúcia ribeiro?
é mãe tia avó? aos 46 anos de idade
casou-se separou-se suicidou
morreu de parto ou de doença?
é dona-de-casa operária
dentista ou advogada?
não não quero resposta!
como gullar quero apenas perguntar:
algo que ficou sem resposta
e que assim ficará para sempre.
Sob as luzes de Argos(Javier di Mayr-abá)
O cálice da luz
Tem que ser sorvido
Em pequenos goles,
A despeito da sede
E das luzes.
Só quem chega ao fundo do poço
Sabe a exata distância
Que o separa da superfície.
A escuridão existe
Para medir a intensidade da luz
Que não lhe coube sê-la.
Castanheiras
Esperei-te séculos!
Ergui-me viçosa e bela
até que apareceste
com ares senhoriais.
Eu sempre pensei
nosso sexo
assim mesmo:
sem nexo.
Mas essa motoserra
foi demais.
Infâncias
O mundo fez piruetas
com o pé de manga-rosa
pintou as bolas-de-gude
com as sobras do arco-íris.
Brincavam de amarelinhas
felizes muricizeiros.
Curiós, xexéus e sanhaços
faziam o maior furdunço
nas frutas, nos arvoredos.
Os anos de todos eles
a gente contava nos dedos.
Com argamassa dos sonhos,
a terra forjava os homens:
era Bruno, Erick, Carol e Rafa
brincando de lobisomem.
Auto tessitura
Habitam em mim
duendes e ninfas
que se embalam
ao som das águas
dos igarapés e rios...
Sonhando com os mares
sabem das enchentes e vazantes;
deduzem marés e preamar.
Brotam dos meus olhos
a alegria da luz
do nascer do dia
e a tristeza de não-sei-bem-onde
adornada pelo vôo das gaivotas
e andorinhas nos finais de tarde
a povoar meus olhos.
Coexisto escárnio e mistério;
convivo a cada segundo
com a hipótese do fim;
em cada curva
gume da afiada lâmina
a esperar por mim.
Meus líquidos – mel e fel,
são taças a inundar-me os leitos.
As dores, na carne ínvia,
Agem ambíguas em viagens e lendas.
- Os sons roubam-me a cena.
É sempre assim!
Sou tantos nessa moldura de carne e ossos...
A música que me habita
ronda em minha mesa
farta de canções impossíveis.
Olho o horizonte
e tento resumir o céu
aos pedaços que alcançam minhas retinas.
Os dias parecem-me tão curtos
já não me bastam;
sou pouco demais para mim mesmo!
Talvez porque ainda procuro rumos
em minhas velas enfunadas.
O tempo é um novelo:
nem novo, nem velho,
basta-se a si mesmo.
É só tempo, a esmo,
sem antagonismos... sem dilemas...
O mundo que nos rodeia
é um abismo de sorriso largo
e o reino fugidio do sonho
não contém a magia do passo que decide.
Os sonhos são mais caprichosos
que a musa que amei.
Minha cidade, minha vida - Ademir Braz
do ferro e da pedra o verbo exato;
como a lavadeira que os panos leva
aos girassóis da fonte matinal
e nos álveos de luz dispersa em cora
a seda orvalhada dos lençóis;
assim minh’alma disporei em pranto
até que tu, só tu, aurora minha,
raies sobre as velas do meu canto.
Entre as sombras que a luz semeia
de brilhantes, enredado em fluídos
ouço tua voz, cidade, acalentando
em pranto insones e perdidos.
Sobre o sono lânguido das rochas
ardem lírios brônzeos. Secretos
címbalos cintilam em vertigem:
é todo estilhaço pelos tetos
o mar luar silenciosamente.
Puro ouro em pó sobre a calçada
é teu soluço, córrego sem leito,
e que sentido tem a luz assim
esparsa e rara a transmudar-me o peito?
Eu vivo imerso para sempre neste
e nas coisas deste e dos outros mundos.
Há dias, porém, que me aborreço
até com que me aborreço. São
dias inóspitos, de fardos e farpas,
agravos e adagas; são águas terçãs
de agosto aquilo com que me aborreço.
São ácidos dias, cidade, quando
a vida, aos trancos, derrapa, trepida,
e a mão em chaga viva tece de urtigas
um manto sob o céu de pássaros e bruxas.
E troto então em tuas ruas várias
entre meninos sombrios e cães sem dono
e lembro, dos teus cantores, aquele
que chorou por ti no plenilúnio:
“Sofres: teu mal devora-te as entranhas;
há podruras que a seiva te empeçonham...”
A voz tonitroante - e inútil, cidade -
do poeta ressoa nos casebres
e na praça mouca dos poderes
(mas nem por isso cessarei o alarde).
Queria então falar de amores, cidade,
mas o amor não é tudo: não é paz,
nem crença, nem destino. Não é pão,
justiça, crime ou câncer. Nem terra
ou fome; cataplasma, água, ar, insônia,
nem bebida forte que os olhos doura.
Que fim levou a amada, cidade,
a dos olhos dourados e mãos camponesas
que um dia, ao fim do dia,
levou-me uma rosa entre os seios
e a promessa - já realizada -
de uma dor tão grande como nunca vista
em nenhuma teogonia? A amada
e a rosa eternizaram-se no espelho.
Vês? Tu e eu morremos um para o outro
diariamente. (Somos o que somos. E somos
apenas memória do que fomos).Tudo que sei
disperso neste coração legado às ventanias:
só trago no céu da boca, indissoluta,
a tatuagem invisível de tuas estrelas.
Sim, são ácidos esses dias,
quando até o amor se exila.
Então a poesia sai de mim aos gritos
e não sei senão das coisas que os pássaros
perdem, o mar deixado atrás, a negra noite
que se acumula na boca
entre versos de Neruda.
12 de abr. de 2007
ELEGIA DE VERÃO / Poema de Ademir Braz
Ademir Braz
Marabá/PA
Enquanto Pedro agoniza
e sangra a vida nas pedras
do chão estreito da praça
na praça tonta de luz
acácias douram o dia
aves alegres revoam
na praça tonta de luz.
Pedra entre pedras a poça
dos olhos vítreos de Pedro
reflete lotes de nuvens
no latifúndio do céu.
Enquanto Pedro agoniza
e um sol perfeito resseca
o sangue espesso nas pedras
Pedro ignora que a terra
a terra amante e mãe
com leves dedos afaga
o corpo que a desejou.
Inacabado horizonte
exangue pássaro Pedro:
seu corpo é sua sina
de pedra a mão campesina
Seu corpo é sua sina
de pedra a mão campesina.
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO POEMA "ELEGIA DE VERÃO"
DE ALMIR BARZ.
O eu lírico, na posição de um narrador, aborda um tema antigo, mas ao mesmo tempo atual, que é a busca do homem do campo por um pedaço de terra.
O texto inicia com uma contradição: enquanto pedro agoniza, jogado no chão de uma praça, o dia está lindo com belas flores ("acácias") e aves voando num céu ensolarado.
OBS. A poesia lírica apresenta várias formas poéticas fixas que são: o soneto, canção, ode, écloga ou égloga, epitalâmio e a elegia.
A ELEGIA : poemas que indicam sentimentos dolorosos, por exemplo: a morte ou a perda da pessoa amada.
11 de abr. de 2007
O USO DA VÍRGULA
Uso obrigatório da vírgula nas orações estudadas
É obrigatória a vírgula para assinalar orações subordinadas que se encontrem no princípio de uma frase, ou seja, antes da principal ou subordinante. Exemplo: Se não tivesse pais, vivia num orfanato.
É obrigatória a vírgula para assinalar as orações intercaladas. Exemplo: Os dois irmãos, embora se dessem bem, saíam sempre sozinhos.
É obrigatória a vírgula para assinalar a presença das orações coordenadas adversativas, ou seja, qualquer oração coordenada adversativa é antecedida por uma vírgula ou outro sinal de pontuação forte. Exemplo: Está muito sol, no entanto está frio.
A regra anterior aplica-se também às orações coordenadas conclusivas. Exemplo: Estás com muita febre, logo ficas em casa.
Nota: Quer as conjunções/locuções adversativas, quer as conclusivas sempre que se apresentem no meio de uma oração vêm isoladas por vírgulas
Exemplo: O Gustavo chegou tarde. Os amigos, no entanto, continuavam à sua espera.
É obrigatória a vírgula para assinalar orações justapostas. Exemplo: No recreio, os rapazes jogavam à bola, as raparigas conversavam, os contínuos faziam a limpeza do recinto.
É obrigatória a vírgula para assinalar orações coordenadas copulativas que apresentem sujeitos diferentes. Exemplo: Eu vou passear, e tu vais estudar.
É obrigatória a vírgula sempre que numa frase haja uma enumeração de orações. Exemplo: Eles jogavam, elas brincavam, os outros cantavam.
Outras situações de uso obrigatório da vírgula
É obrigatória a vírgula para assinalar o vocativo onde quer que ele se encontre na frase. Exemplo: Joana, vem cá!
É obrigatória a vírgula para assinalar o aposto. Exemplo: O Rui, irmão de um amigo meu, está na universidade.
É obrigatória a vírgula para assinalar expressões de carácter explicativo, como ou seja, isto é... Exemplo: A escola Domingos Rebelo, isto é, a minha escola, situa-se na Av. Antero de Quental.
É obrigatória a vírgula para assinalar enumerações simples de carácter morfológico. Exemplo: Eu fui ao mercado e comprei maçãs, batatas, bananas, cenouras, alfaces e couves.É obrigatório o uso da para assinalar o local numa data. Exemplo: Belém, 11 de Abril de 2007
O USO DO PORQUE JUNTO E SEPARADO
Na língua portuguesa, existem quatro tipos de "porquês". Eles são utilizados em ocasiões diferentes, mas é muito fácil se enganar em uma redação. Veja a diferença entre eles:
Por que (separado sem acento).
Usa-se esta forma para iniciar perguntas:- Por que fizeste isso?Podemos trocar o "por que" por "pelo qual motivo", sem alterar o sentido:- Pelo qual motivo fizeste isso? Por que -> pelo qual motivo.
Porque (junto sem acento)
Utilizamos esse formato para responder perguntas, exemplo:- Fiz isso porque era necessário. É possível trocar o "porque" por "pois", sem alterar o sentido:- Fiz isso pois era necessário. Porque -> pois.Por quê (separado com acento)
Utiliza-se o "por quÊ" em final de frases:- Sabemos que você não compareceu à reunião, por quê?
Porquê (junto com acento)
Essa forma é utilizada quando o "porquê" tem função de substantivo:- Se ele fez isso, teve um porquê (motivo)- Gostaria de entender o porquê eu tenho que ir.
7 de abr. de 2007
DICAS DO PORTUGUÊS
"Um milhão de pessoas já CHEGOU ou CHEGARAM?"Tanto faz. O verbo pode ficar no singular para concordar com MILHÃO, que é um substantivo masculino no singular, ou no plural para concordar com o especificador "pessoas".Quando o verbo é de ligação (ser, estar, andar, ficar, continuar...), é visível a preferência pela concordância com o especificador:
"Um milhão de reais FORAM GASTOS na obra"; "Meio milhão de crianças já FORAM VACINADAS"; "Um milhão de mulheres ESTÃO GRÁVIDAS".Alguém diria que "Um milhão de mulheres ESTÁ GRÁVIDO"???"Um terço dos alunos já SAIU ou SAÍRAM?" Segundo a tradição gramatical, quando o núcleo do sujeito é formado por uma fração, o verbo deve concordar com o numerador:
"UM terço dos alunos já SAIU".Assim sendo: “UM terço COMPARECEU”; “DOIS terços COMPARECERAM”.É aceitável, entretanto, a concordância com o especificador: "Um terço DOS ALUNOS já SAÍRAM".
Temos aqui, portanto, um caso de concordância facultativa: “UM quarto DAS EMPRESAS PESQUISADAS PERDEU ou PERDERAM mais de US$ 1 milhão.”Quando o verbo é de ligação (ser, estar, ficar, tornar-se...), é flagrante a preferência pela concordância atrativa: "UM terço das mulheres FICARAM INSATISFEITAS"; "UM quinto das crianças já FORAM VACINADAS".
"10% FOI DESCONTADO ou FORAM DESCONTADOS?"O correto é "10% FORAM DESCONTADOS".· Até 1,9%, o verbo concorda no singular: "1% FOI DESCONTADO";· De 2% para cima, o verbo vai para o plural: "2% FORAM DESCONTADOS".
1.Quando o número percentual é acompanhado de um especificador, a concordância pode tornar-se facultativa:
a) "1% dos brasileiros ainda não VOTOU ou VOTARAM" (VOTOU está concordando com 1% e VOTARAM concorda com o especificador "brasileiros");
b) "10% da população ainda não VOTOU ou VOTARAM" (VOTARAM concorda com 10% e VOTOU concorda com o especificador "população");
c) Quando o número percentual vem antecedido de um elemento determinativo (artigo ou pronome), a concordância deve ser feita com a percentagem: "Os demais 10% da população ainda não VOTARAM".
d) Com os verbos de ligação (ser, estar, ficar, continuar...), existe uma visível preferência pela concordância atrativa: "1% das crianças ainda não FORAM VACINADAS"; "10% das mulheres FICARAM INSATISFEITAS".
"O resultado da pesquisa FOI ou FORAM números assustadores?" Entre o singular e o plural, a concordância do verbo SER deve ser feita preferencialmente no PLURAL.
Se o sujeito estiver no singular e o predicativo no plural, a concordância do verbo SER se faz de preferência no PLURAL:“Tudo SÃO hipóteses.”“O problema ERAM as chuvas.”“O resultado da pesquisa FORAM números assustadores.
”Se o sujeito estiver no plural e o predicativo no singular, a concordância do verbo SER se faz de preferência no PLURAL:“Esses dados SÃO parte de um relatório elaborado pela comissão especial do Senado.”“As cadernetas de poupança ERAM a melhor garantia para o futuro.”Estas providências FORAM a salvação da empresa.”
"O escolhido FOI eu ou FUI eu?"Se “o escolhido foi eu”, é porque foi mal escolhido. O correto é “O escolhido FUI eu”.
Se o predicativo for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo SER concorda com o PREDICATIVO: “O escolhido FUI eu”; “As esperanças do time ERA o Romário”; “O responsável SOU eu”; “Os convidados FOMOS nós”.
Se o sujeito for nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo SER deve concordar com o SUJEITO: “Eu FUI o escolhido”; “Romário ERA as esperanças do time”; “Fernando Pessoa É muitos poetas ao mesmo tempo”; “Eu SOU o responsável”; “Ele é forte, mas não É dois”.
Se houver dois pronomes pessoais, o verbo SER concorda com o primeiro:“Eu não SOU você”; “Ele não É eu”; “Nós não SOMOS vocês.
O INTERNETÊS.
Quem gosta da internet e a utiliza com certa freqüência já deve ter observado uma “novidade lingüística” bem marcante, que vem provocando boas discussões.São comuns, principalmente entre os mais jovens, o uso de palavras abreviadas e o desrespeito às normas ortográficas vigentes: “tb axo q vc naum deve viaja pq tá xato” (também acho que você não deve viajar porque está chato).Quanto às abreviações, sinto informar aos nossos adolescentes que se trata de uma “novidade velha”. Era uma “taquigrafia” necessária: tb (também), q (que), vc (você), pq (porque)...
O uso da letra “m” para substituir o til (naum = não) é um retorno às nossas raízes. Para quem não sabe, a origem do til é a letra “n”. Observe duas curiosidades:
1ª) em espanhol, o nosso VERÃO é “verano” e a forma verbal PÕE (do verbo PÔR) é “pone” (do verbo “PONER”);
2ª) o ditongo nasal decrescente /ão/ pode ser grafado “ão” (estão, cantarão) ou “am” (falam, cantaram), conforme a tonicidade. A grafia fonética (axo, xato) já é defendida por muita gente, mas essa brincadeira pode criar vícios irreversíveis. Em textos oficiais, todos nós devemos seguir o sistema ortográfico vigente, que é baseado não só na fonética mas também na etimologia (origem das palavras).
A verdade é que nós sabemos ortografia por memória visual, e não por “decoreba” de regrinhas. Ninguém perde tempo pensando se HOJE tem “h” ou não, se CASA é com “s” ou “z”, se CACHORRO é com “x” ou “ch”. O que nos faz saber ortografia é a leitura e o bom hábito de escrever. Não temos dúvida na hora de escrever palavras usuais, aquelas que vemos e escrevemos com freqüência.
Isso significa que a visualização e o uso constante das palavras fora da grafia oficial podem criar “dúvidas eternas”.O uso de TÁ por ESTÁ é uma tendência da linguagem coloquial brasileira. É marca da nossa oralidade. Outra característica da nossa língua oral é a omissão do “r” no infinitivo dos verbos (vou falá, vendê, parti).
É um fenômeno chamado apócope (perda de fonema no fim do vocábulo). Isso ocorreu, por exemplo, na evolução dos verbos latinos, que terminavam em “are”, “ere”... e perderam o fonema vocálico final.
Hoje, em Português, o infinitivo dos verbos termina no “r” (vou falar, vender, partir).Tudo isso pode ser muito interessante e criativo, mas é preocupante. A nossa garotada precisa estar consciente de que esta forma de linguagem é grupal, é localizada, é adequada unicamente numa situação específica.
É preciso que saibam que a linguagem da maioria, dos textos oficiais, da vida profissional é a língua padrão. E a escola não pode se omitir: é lá que os jovens poderão entrar em contato e conhecer a língua padrão.Todas as formas de linguagem são válidas e adequadas a cada situação, inclusive a língua padrão. Como diz nosso mestre e acadêmico Evanildo Bechara: “É preciso sermos poliglotas dentro da nossa própria língua”.
OBS. Um MAU pressentimento é contrário de um BOM pressentimento. Não esqueça o velho macete: MAU se opõe a BOM e MAL é o contrário de BEM. E você sabe quando é que se escreve "porisso" junto? Só quando você escreve errado. "Porisso" não existe. Devemos escrever POR ISSO sempre separado.
FIGURAS DE HARMONIA
Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura "imitar"sons produzidos por coisas ou seres.
As figuras de harmonia ou de som são:
Aliteração: Repetição de consoantes da mesma natureza, ou de natureza semelhante.
Exemplo: “Acho que a Chuva ajuda a gente a se ver.” (Caetano Veloso)
Onomatopéia: Representação de algo por meio do som de uma palavra ou expressão.
Exemplo: Não consegui entender a explicação por causa do zumzumzum da classe.
Veja que neste caso o som das palavras é representado pela expressão “zumzumzum”.
Assonância
Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.
Exemplo:
"Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam."
(Chico Buarque)
Paronomásia
Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.
Exemplo:
Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."
(Caetano Veloso)
Eco: é a repetição desnecessária de um som, resultando num texto desagradável, com um ritmo batido e monótono. A melhor forma de corrigir esse defeito é ler o texto já acabado com muita atenção; na língua portuguesa é preciso tomar muito cuidado, por exemplo, com as terminações -ão, -ade e -mente. Uma frase do tipo: "Contra sua vontade, apenas por bondade, ele foi à cidade; na verdade..." machuca o ouvido.
FONTES DAS FIGURAS DE SINTAXE
Dizem que a Fonte das Figuras de Sintaxe é um lugar mágico.É que às vezes surgem criaturas estranhas da água que jorra da fonte. E ali estava o nosso amigo Tomás Nota bebendo da fonte, quando tomou um super susto: pelo reflexo da água, viu que quatro Figuras de Sintaxe estavam atrás dele. E a primeira falou: - Se quiser me chamar um dia, Elipse. Eu faço sumir palavras de uma frase, as que não fazem falta. (Sem a Elipse, a frase ficaria assim: "Se quiser me chamar um dia, meu nome é Elipse. Eu faço sumir palavras de uma frase, mas apenas as palavras que não fazem falta") Ao seu lado estava o Pleonasmo: - Queria vê-lo com meus próprios olhos! A mim já me haviam informado que você estava passeando na Cidade da Gramática, mas queria vê-lo pessoalmente. Muito prazer, Pleonasmo é como me chamam. Sou o completo oposto da minha irmã Elipse: vivo colocando palavras desnecessárias nas frases, só para tornar o bonito mais belo! Então foi a vez do Anacoluto: - Falar, escrever, muita gente sabe falar e escrever. Mas as Figuras de Sintaxe, somos nós que fazemos as frases ficarem mais bonitas. Eu, Anacoluto, coloco palavras no início das frases que não têm relação com o fim. Fica chique, não é? Por fim, a bela Silepse apresentou-se: - As Figuras de Sintaxe estamos muito felizes em conhecê-lo. O povo nos chama quando querem falar ou escrever de um modo mais sofisticado. Eu, por exemplo, crio concordâncias diferentes do normal. A isso chamam Silepse. (Se ela fosse falar do modo mais comum, seria assim: "As Figuras de Sintaxe estão muito felizes em conhecê-lo. O povo nos chama quando quer falar ou escrever de um modo mais sofisticado" . Do jeito dela fica mais bacana, você não acha?
CARROSEL DA LINGUAGEM
Quando Tomás Nota estava subindo no Carrossel da Linguagem, um garoto chamou sua atenção:- Seu cadalço está desamarrado. Outro dia minha irmã estava andando assim, caiu e machucou a boca dela. Meu avô até falou: "É preciso circunspecção para não ter de pernoitar no nosocômio". Aí nós riu. O gerente do carrossel veio com uma colher e um vidrinho onde estava escrito: "Xarope de Gramática". - Que horror! Este menino está cheio de vícios de linguagem! Assim não pode brincar no carrossel.O homem fez o garoto engolir o xarope, e continuou: - "Cadalço" é um barbarismo! Ou seja, escrever ou falar desrespeitando as normas da Gramática. O certo é cadarço. Ele também está com cacofonia: "boca dela" tem um som que a gente confunde com "cadela". Parece que a irmã dele machucou a cadela, e não sua boca. Não dava descanso, esse gerente: - E o solecismo, então? "Nós riu"... O verbo tem que concordar com o sujeito. Se "Nós" é a 1ª pessoa do plural, o verbo tem que estar no plural também: Nós rimos. E ainda arrematou, enquanto o garoto e Tomás Nota pulavam no carrossel:- Aliás, seu avô também precisava de um xaropinho de Gramática. Por que dizer "é preciso circunspecção para não ter de pernoitar no nosocômio"? Assim fica muito mais claro: é preciso cuidado para não passar a noite no hospital. Que preciosismo! Havia um riso preso entre os lábios de Tomás Nota. Ele gritou, quando o carrossel começou a rodar: - Carrossel é barbarismo! E explicou para o garoto que tomou xarope: - Como carrossel é uma palavra francesa, na verdade, usá-la como se fosse da língua portuguesa é um barbarismo. Garoto esperto, este Tomás Nota. Vícios de linguagem são erros gramaticais muito praticados, como o barbarismo, a cacofonia, o solecismo e o preciosismo.
COM GRAMÁTICA TAMBÉM SE BRINCA
CORREIO DA PREPOSIÇÃO
No meio do passeio, Tomás Nota passou no Correio.
Pensou nos seus pais e no Sandoval, seu cachorro tão leal, e resolveu mandar um cartão postal.
- Quero mandar um cartão saudade casa!, disse ao funcionário, que quase teve um desmaio.
"Xi! Que cara burro", o funcionário pensou, mas não disse, com medo de ganhar um murro.
- Você quer mandar um cartão DE saudades? - perguntou o funcionário.
Tomás Nota achou que era má-vontade.
- Você quer enviar um cartão PARA casa? - implicou o funcionário.
Tomás Nota se sentiu um otário.
- Aqui é o Correio da Preposição. Enviamos pacote COM presente, e todo tipo de cartão. Mandamos também cartas POR via aérea e telegramas PARA dizer parabéns.
Tomás Nota achou graça do funcionário, que fazia pose de competente.
Depois de escrever o cartão, entregou para o tal, que ainda disse:
- Ei! Está SEM o remetente!
Percebendo qual era o jogo, nosso herói resolveu ser peralta.
- EM VEZ DE escrever meu nome verdadeiro, vou assinar meu apelido!
E você, percebeu qual era o jogo?
O jogo era usar preposições corretamente!
Afinal, "Quero mandar um cartão saudade casa" não é frase que se apresente.
Entre "cartão" e "saudade" é preciso a preposição DE, como mostrou o funcionário do Correio. E entre "saudade" e "casa" também tem que haver uma palavra de ligação: PARA, que é uma preposição!
Isso porque alguém pode sentir saudades DE casa, pode sentir saudades EM casa (de alguém que está lá fora...). Tem que falar direito para ser entendido, não é?
Preposições fazem as ligações certas entre as palavras.
Você quer saber como as preposições trabalham e chegam a modificar uma oração?
Você já viu o que acontece quando alguém liga um aparelho de 110V na tomada de 220V? Além de não funcionar, quebra. É preciso fazer a ligação correta. Assim são as preposições: cada uma serve para dizer uma coisa diferente. Veja como esta oração pode mudar, de acordo com a preposição colocada: Este é um papo DE adultos.Este é um papo SEM adultos.Este é um papo COM adultos.Este é um papo ENTRE adultos.Este é um papo SOBRE adultos.Muitas vezes, a preposição aparece grudada em outras palavrinhas: CombinaçãoQuando a preposição vem grudada direitinho em outra palavra. Veja: Aonde você pensa que vai? AONDE = A + ONDE. Outros exemplos: ao (a + o), aos (a + os) ContraçãoQuando a preposição grudou tanto em outra palavra, que uma parte delas sumiu. Atente: Coloque o destinatário NESTE cartão. NESTE= EM+ESTEOutros exemplos: num (em + um), daquele (de + aquele) Além de preposições grudadas em outras palavras, há também as preposições que são formadas por várias palavras que andam uma do lado da outra. São as locuções prepositivas. Você viu como o Tomás Nota aprendeu o jogo da preposição que o funcionário do Correio quis jogar com ele? Até usou "em vez de"... que chique. Exemplos de locuções prepositivas: ALÉM DE não tomar banho, não fez lição de casa. Eu empresto meu brinquedo, APESAR DE você ser chato. EM VEZ DE assinar meu nome, vou usar meu apelido. Locução prepositiva é o grupo de palavras que vale por uma preposição.
6 de abr. de 2007
GRAMATICAR TAMBÉM É CULTURA.
A Língua Portuguesa não é vista com bons olhos, por tratar-se de uma língua difícil e cheia de regras. Então, a melhor forma de aprender e fixar à gramática é praticar o hábito de ler, escrever e fazer exercícios e não usar o famoso “decoreba”.
- O que é GRAMATICAR?
Gramaticar : é dar regras de gramática.
OBS. Escrever corretamente é um item importante para redigir um bom texto.
ERROS COMETIDOS NO DIA-A-DIA
INFRINGIR : significa violar, transgredir
Ex. Infringiu o regulamento.
INFLIGIR : aplicar, causa sofrimento, condenação
Ex. Infligiu séria punição ao réu.
DESPERCEBIDO : que não foi notado, que não foi dada atenção, nem ouvido.
Ex. Na verdade o fato passou despercebido.
DESAPERCEBIDO: descuidado, desprovido
Ex. Passei desapercebido na aula.
HAJA VISTO seu empenho. HAJA VISTO não existe. A expressão que existe é HAJA VISTA não importa o que vem depois. É invariável.
Ex. Haja vista seu empenho.
Haja vista suas críticas.